A usabilidade do Google não é boa (ou as heurísticas de Nielsen talvez já não sirvam mais)

Este artigo é parte de uma pesquisa maior em Design de Experiência do Usuário. Nesta etapa, foi realizada uma experiência para aferição da validade das Heurísticas de Jakob Nielsen como instrumento de avaliação da usabilidade – aqui entendida como eficiência, eficácia e satisfação do usuário – das interfaces web.

Por meio de uma avaliação heurística feita na interface do Google – referência em interface web – questiona-se o uso deste tipo de avaliação, que tem sido feita há quase 30 anos com base nos mesmos critérios.

As Heurísticas de Nielsen são: 

Visibilidade do status do sistema O sistema deve, sempre, manter o usuário informado sobre o que está acontecendo, fornecendo um feedback apropriado, num tempo razoável. 
Equivalência entre o sistema e o mundo real O sistema deve falar a linguagem do usuário, com palavras, frases e conceitos familiares a ele, em vez de utilizar termos técnicos orientados ao sistema. Seguir convenções do mundo real, fazendo com que a informação seja exibida em sua ordem lógica e natural. 
Controle do usuário e liberdade Usuários frequentemente escolhem erroneamente funções do sistema, e necessitarão uma clara e demarcada “saída de emergência” para sair de um estado indesejado sem a necessidade de passar por um caminho extenso e complexo. O sistema deve oferecer suporte para ações como: desfazer e refazer. 
Consistência e padrões Usuários não tem que adivinhar quando palavras, situações ou ações diferentes significam a mesma coisa. Siga convenções.
Prevenção de erros Melhor do que boas mensagens de erro é o cuidado para prevenir um problema, antes que ele aconteça, em primeiro lugar. Solicitar a confirmação do usuário antes de executar comandos ajuda a evitar diversas escolhas feitas de forma equivocada. 
Reconhecimento em vez de memorização Minimizar a carga de memória do usuário, tornando objetos, ações e opções visíveis. O usuário não deve ter que lembrar-se da informação de uma parte do diálogo para outra. As instruções para usar o sistema devem ser visíveis e facilmente localizáveis, sempre que apropriado. 
Flexibilidade e eficiência de uso Aceleradores de tarefa, invisíveis aos usuários novatos podem oferecer mais rapidez na tarefa para usuários experientes, assim como o sistema deve atender tanto usuários inexperientes, quanto experientes. 
Estética e design minimalista Diálogos não devem conter informação que não seja relevante. Cada informação irrelevante compete com as relevantes e reduzem sua visibilidade. 
Ajudar os usuários a reconhecer, diagnosticar e recuperar ações erradas Mensagens de erro devem ser expressas em uma linguagem simples (sem códigos), indicando precisamente o problema, e sugerindo, construtivamente, uma solução. 
10 Ajuda e documentação Mesmo tendo como meta que o sistema deve poder ser utilizado sem documentação, pode ser necessário fornecer ajuda e documentação. Qualquer informação neste sentido deve ser fácil de buscar, focada na tarefa do usuário, listando passos concretos para ser levada adiante e sem ser grande demais. 
Fonte: Nielsen (1995)

O processo de avaliação contou com a participação de 6 (seis) especialistas em desenvolvimento e testagem de interfaces web, que procederam a análise de um objeto empírico, adotando tais heurísticas para tanto. 

Os critérios para seleção de especialistas foram

  • larga experiência em desenvolvimento e avaliação de interfaces (preferencialmente com, no mínimo, 10 anos de atuação profissional);

  • atuação como designer de interface, arquiteto de informação, UX designer, designer de interação, designer da informação ou UI designer;

  • formação acadêmica na área de design ou áreas correlatas, preferencialmente com pós-graduação.

Ao final da avaliação, diversas inconformidades foram encontradas. Resumidamente pode-se dizer que das dez heurísticas de Nielsen, oito não foram devidamente atendidas pela interface, segundo a avaliação dos especialistas. Ou seja, os resultados obtidos apontam que a página de busca do Google não atende à maioria das heurísticas.

Heurísticas como “visibilidade do status do sistema”, “equivalência entre o sistema e o mundo real”, “controle do usuário e liberdade”, “consistência e padrões”, “prevenção de erros”, “flexibilidade”, “ajuda e documentação”, entre outras, não apresentam desempenho satisfatório. 

Entre outras conclusões possíveis, está a de que a avaliação heurística não seja, atualmente, o mais abrangente e confiável método para avaliar a usabilidade de interfaces de websites

(O estudo completo encontra-se disponível aos interessados, basta entrar em contato)